quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Bilhete de Identidade Ecológico

Nome vulgar: Garrano
Nome Científico: Equus caballus
Área de Distribuição: Nordeste de Portugal e Galiza.

Garrano, o cavalo do Norte de Portugal

Garranos em liberdade

De pequena estatura, cor castanha, membros robustos e curtos, perfil côncavo e pescoço grosso adornado por uma densa crina, o Garrano é uma das três raças de cavalos autóctones do território Português (Garrano, Lusitano e Sorraia). Originário da fauna glaciar Paleolítica e representante do cavalo do tipo Celta das regiões montanhosas do Nordeste Ibérico, é um cavalo de monte existente no norte do país, principalmente na serra do Gerês e com especial incidência no Concelho dos Arcos de Valdevez, cujo mesmo vive actualmente em estado semi-selvagem e doméstico.
O cavalo Garrano foi domesticado há vários séculos, estando perfeitamente integrado na vida rural do sistema agrícola de minifúndio no noroeste português, contudo a mecanização da agricultura provocou o desinteresse dos criadores e o retorno dos animais para as zonas de montanha em regime livre. Nas primeiras décadas do século passado, com a submissão das serras portuguesas ao regime florestal, o Garrano quase desapareceu.
Nos anos quarenta do passado século, o governo português pôs em marcha uma operação para recuperar o Garrano. Este cavalo, que alguns autores denominam cavalo celta, forma parte de um grupo de póneis, de origem primitiva, que se estende por todo o Atlântico e o Norte da Europa.
A raça esteve quase extinta em Portugal e para a sua recuperação foi necessário capturar alguns exemplares, minimamente semelhantes ao protótipo celta, que ainda se encontravam em propriedades de camponeses, cruzando-os sucessivamente chegando a aproximar-se, a descendência, o mais possível da pureza original. O primeiro grupo criou-se apenas com 21 exemplares que foram seleccionados entre o efectivo pecuário da zona de Vilarinho das Furnas, para posteriormente serem postos em liberdade na serra. Nas últimas décadas os criadores começaram a libertar no monte outras raças de cavalos. O resultado foi inevitável, os Garranos puros começaram a rarear. Desde 1993, os exemplares que vivem em estado selvagem são poucos e a raça está classificada como ameaçada dentro do Espaço Comunitário (Races d’équidés menacées dans la C.E.E, 1993). Em 1994, o Serviço Nacional Coudélico define o padrão da Raça Garrana e inicia-se o Registo Zootécnico. O Registo Zootécnico permitiu realizar a caracterização zootécnica e determinar o seu efectivo e a sua área de dispersão.
Actualmente estão registados cerca de dois mil indivíduos - 1500 adultos e 500 poldros - dispersos por dezassete concelhos nas províncias do Minho e Trás-os-Montes.

O Garrano doméstico

Os garranos foram preparados desde sempre pelos povos do Nordeste Transmontano para o trabalho do campo e para a sela, eram preparados para: lavrar os campos; semear e sachar os milhos; carregar os matos e os estrumes, as lenhas e as colheitas; transportar o centeio e a farinha. No que toca ao trabalho de sela, estes animais foram utilizados pelos Romanos, para fazer a travessia por entre serranias agrestes. Para tornar a viagem do cavaleiro mais confortável ensinavam-lhes o passo “baixo” também conhecido por “andadura”, movimento em que o cavalo avançava adiantando ao mesmo tempo os dois membros do mesmo lado. Este movimento consiste em duas batidas. O garrano balanceia-se e o cavaleiro é embalado. Não desloca o peso na vertical e por isso não cansa o cavaleiro, podendo assim percorrer meia centena de quilómetros por dia, durante vários dias, por caminhos íngremes e pedregosos, o que antes dos automóveis era uma grande feito.
Ainda hoje nas romarias destas terras não pode faltar a corrida de “passo travado” uma verdadeira atracção, embora hoje estas sejam protagonizadas por equinos não pertencentes na sua maioria à raça aqui descrita, mas isso também são os sinais dos tempos e é a desvalorização de tudo quanto é nosso e que nós como “bons” lusitanos, cedo nos apressamos a desdenhar!

O Garrano no futuro

Os Garranos têm sido cada vez mais utilizados na iniciação das crianças à equitação. Desempenham um papel predominante na Hipoterapia, trabalhando de perto com crianças com problemas de mobilidade. Por tudo isto o futuro embora desconhecido, parece risonho. O futuro deste nosso património genético e cultural depende em grande parte dos transmontanos e todos aqueles, que têm por missão proteger as espécies ameaçadas no nosso país.
Aos transmontanos, em primeira instância porque se o Garrano desaparece, desaparece com ele, uma parte da História e da cultura de um povo. A cultura não é apenas o conhecimento inscrito em livros, é todo o conhecimento, e este apresenta-se de variadas formas e todas elas preciosas. Estes animais representaram uma realidade que não deve ser esquecida, deve sim ser enaltecida para que com base no passado, possamos projectar o futuro.
Como alguém disse um dia “nós seremos lembrados, não apenas por aquilo que construímos, mas também por aquilo que nos recusamos a destruir”.

Páginas a visitar:
http://www.garrano.pt/
http://www.sitiodogarrano.com/
http://www.blogger.com/www.acerg.net

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