domingo, 27 de setembro de 2009

Claude Lévi-Strauss


Claude Lévi-Strauss, cem anos de um intelectual do século


«Se me tornei antropólogo é porque as outras sociedades me interessavam mais do que a minha»


"A sua obra, com uma mensagem humanista e de alcance universal, transformou a nossa visão do Mundo. Interessado em todas as civilizações, ele ensinou-nos a complexidade dos mitos e a diversidade das culturas, assim como sua fragilidade". As frases são de Koichiro Matsuura, director-geral da Unesco, e foram proferidas terça-feira durante a homenagem que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura decidiu fazer a Claude Lévi-Strauss. Hoje, o antropólogo francês graças a quem "sabemos que a riqueza da Humanidade reside na sua diversidade e na sua capacidade de sempre reconhecer o lugar do outro", ainda segundo Matsuura, celebra cem anos.

Nasceu em Bruxelas, filho de um judeu agnóstico. Estudou Direito e Filosofia na Sorbonne, mas deixou direito pelo caminho. É referência da Antropologia Moderna cujo primeiro trabalho etnográfico foi feito ainda durante o curso de Filosofia. Um convite de Marcel Mauss, "pai" da Etnologia francesa para ingressar no recém-criado departamento de etnografía da universidade indicou-lhe o caminho. "Se desejasse estudar a minha própria sociedade, ter-me-ia tornado um especialista em Ciência Política ou Sociologia. Se me tornei antropólogo é porque as outras sociedades me interessavam mais do que a minha", afirmou no documentário «Trópico da Saudade», do antropólogo e realizador brasileiro Marcelo Fortaleza Flores, exibido esta semana na TV francesa. O Brasil está muito presente no século de Lévi-Strauss. Leccionou no polo de Sociologia da Universidade de S.Paulo entre 1935 e 1939 e realizou várias expedições para encontrar indígenas, no Mato Grosso e na Amazónia, com trabalhos de campo nas tribos dos bororo, nambiquara e tupi-kawahib, experiências que o orientaram definitivamente como profissional da antropologia. E depois de se ter tornado referência no mundo académico, o reconhecimento público surgiu quando escreveu sobre o Brasil: «Tristes Trópicos» e «Saudades do Brasil».
A luta contra o racismo, pela diferença:


No encontro de terça-feira, a UNESCO lembrou o papel que o pensamento de Lévi-Strauss teve na formação da organização. "Claude Lévi-Strauss, uma das maiores figuras intelectuais do século XX, acompanhou de perto a história da UNESCO", destacou em comunicado o director-geral Koichiro Matsuura. Depois de ter estado exilado nos Estados Unidos, durante a II Guerra Mundial, e de ter entretanto regressado a Paris para reerguer a universidade e ajudar a fundar o Musée de l'Homme, Lévi-Strauss participou desde finais dos Anos 1940 na comissão internacional encarregada de redigir a primeira declaração da Unesco sobre raça, que foi publicada em 1950. Já em 1971 foi convidado a inaugurar o Ano Internacional da Luta Contra o Racismo, protagonizando na sede da organização a célebre conferência Raça e Cultura. Outra das suas preocupações precoces, foi o ambientalismo. Ao mesmo tempo que fazia investigação e trabalhos de campo na área da Antropologia, e de que resultou a sua defesa das culturas e tradições diferentes, foi o percursor do pensamento ecológico. A mesma forma que levava o homem a alfabetizar os povos não letrados ou a tentar evangelizá-los, poderia levar a uma uniformização, pensava, que seria símbolo de progresso mas ao mesmo tempo de destruição, das culturas e da terra. Claude Lévi-Strauss reformou-se em 1982. Continua a publicar teses sobre artes, música e poesia. E memórias, além de se ter dedicado a outros interesses como a geologia, a botânica e a astronomia. França programou uma série de homenagens. Hoje, no Museu de Quai Branly é o dia Lévi-Strauss, tendo o museu parisiense dedicado às artes e civilizações da América, África, Ásia e Oceania preparado a iniciativa "Claude Lévi-Strauss tem 100 anos". Cem intelectuais - entre os quais Erik Orsenna, Bernard-Henri Lévy ou Julia Kristeva - lerão trechos de obras do antropólogo tendo em fundo uma exposição de fotografias suas. A Biblioteca Nacional da França prestará tributo a Lévi-Strauss com uma apresentação de seus manuscritos, que permitirá a descoberta de "documentos excepcionais" como o manuscrito de "Tristes Trópicos" ou cadernos de trabalho de campo e croquis, entre outros. Paralelamente, está prevista a edição de vários livros sobre o autor ou seus, em reedição.


Filinto Melo adaptado de: http://www.cienciahoje.pt/

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

As tuas estradas...


Poderia aqui deixar enormes questões de ética e de moral…
Também aqui me poderia deixar contaminar por gigantes e intrincadas considerações filosófico-humanistas… !como se delas eu me pudesse fazer valer!
Ou então poderia seguir o caminho da ciência pura e apresentar-vos premissas e conclusões…

Não….

Nada de tão sisudo…

Não

Nada

A vida não é assim?

A vida é da cor do céu e tu…

Tu só precisas duma passarola que te transporte ao longo das asas…

Tu só precisas de ti e da tua imaginação

Tu!... só precisas ser tu.

Então sê! A Elysia Chlorotica nasceu para ti…


Nuno Monteiro

Katydid Glider - uma outra passarola?



Katydid Glider, Chicago, Illinois, 1907
Image from Gilbert H. Grosvenor

Octave Chanute, a 19th-century American aviation pioneer, designed the multiwinged Katydid glider.

—From "Dr. Bell's Man-Lifting Kite," January 1908, National Geographic magazine

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Poema para Galileu - António Gedeão

Pedra Filosofal



Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão, in movimento perpétuo, 1956

fonte: http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/antonio_gedeao/pedra_filo.html

Imagem: O Homem de Vitruvio

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Bilhete de Identidade Ecológico

Nome vulgar: Garrano
Nome Científico: Equus caballus
Área de Distribuição: Nordeste de Portugal e Galiza.

Garrano, o cavalo do Norte de Portugal

Garranos em liberdade

De pequena estatura, cor castanha, membros robustos e curtos, perfil côncavo e pescoço grosso adornado por uma densa crina, o Garrano é uma das três raças de cavalos autóctones do território Português (Garrano, Lusitano e Sorraia). Originário da fauna glaciar Paleolítica e representante do cavalo do tipo Celta das regiões montanhosas do Nordeste Ibérico, é um cavalo de monte existente no norte do país, principalmente na serra do Gerês e com especial incidência no Concelho dos Arcos de Valdevez, cujo mesmo vive actualmente em estado semi-selvagem e doméstico.
O cavalo Garrano foi domesticado há vários séculos, estando perfeitamente integrado na vida rural do sistema agrícola de minifúndio no noroeste português, contudo a mecanização da agricultura provocou o desinteresse dos criadores e o retorno dos animais para as zonas de montanha em regime livre. Nas primeiras décadas do século passado, com a submissão das serras portuguesas ao regime florestal, o Garrano quase desapareceu.
Nos anos quarenta do passado século, o governo português pôs em marcha uma operação para recuperar o Garrano. Este cavalo, que alguns autores denominam cavalo celta, forma parte de um grupo de póneis, de origem primitiva, que se estende por todo o Atlântico e o Norte da Europa.
A raça esteve quase extinta em Portugal e para a sua recuperação foi necessário capturar alguns exemplares, minimamente semelhantes ao protótipo celta, que ainda se encontravam em propriedades de camponeses, cruzando-os sucessivamente chegando a aproximar-se, a descendência, o mais possível da pureza original. O primeiro grupo criou-se apenas com 21 exemplares que foram seleccionados entre o efectivo pecuário da zona de Vilarinho das Furnas, para posteriormente serem postos em liberdade na serra. Nas últimas décadas os criadores começaram a libertar no monte outras raças de cavalos. O resultado foi inevitável, os Garranos puros começaram a rarear. Desde 1993, os exemplares que vivem em estado selvagem são poucos e a raça está classificada como ameaçada dentro do Espaço Comunitário (Races d’équidés menacées dans la C.E.E, 1993). Em 1994, o Serviço Nacional Coudélico define o padrão da Raça Garrana e inicia-se o Registo Zootécnico. O Registo Zootécnico permitiu realizar a caracterização zootécnica e determinar o seu efectivo e a sua área de dispersão.
Actualmente estão registados cerca de dois mil indivíduos - 1500 adultos e 500 poldros - dispersos por dezassete concelhos nas províncias do Minho e Trás-os-Montes.

O Garrano doméstico

Os garranos foram preparados desde sempre pelos povos do Nordeste Transmontano para o trabalho do campo e para a sela, eram preparados para: lavrar os campos; semear e sachar os milhos; carregar os matos e os estrumes, as lenhas e as colheitas; transportar o centeio e a farinha. No que toca ao trabalho de sela, estes animais foram utilizados pelos Romanos, para fazer a travessia por entre serranias agrestes. Para tornar a viagem do cavaleiro mais confortável ensinavam-lhes o passo “baixo” também conhecido por “andadura”, movimento em que o cavalo avançava adiantando ao mesmo tempo os dois membros do mesmo lado. Este movimento consiste em duas batidas. O garrano balanceia-se e o cavaleiro é embalado. Não desloca o peso na vertical e por isso não cansa o cavaleiro, podendo assim percorrer meia centena de quilómetros por dia, durante vários dias, por caminhos íngremes e pedregosos, o que antes dos automóveis era uma grande feito.
Ainda hoje nas romarias destas terras não pode faltar a corrida de “passo travado” uma verdadeira atracção, embora hoje estas sejam protagonizadas por equinos não pertencentes na sua maioria à raça aqui descrita, mas isso também são os sinais dos tempos e é a desvalorização de tudo quanto é nosso e que nós como “bons” lusitanos, cedo nos apressamos a desdenhar!

O Garrano no futuro

Os Garranos têm sido cada vez mais utilizados na iniciação das crianças à equitação. Desempenham um papel predominante na Hipoterapia, trabalhando de perto com crianças com problemas de mobilidade. Por tudo isto o futuro embora desconhecido, parece risonho. O futuro deste nosso património genético e cultural depende em grande parte dos transmontanos e todos aqueles, que têm por missão proteger as espécies ameaçadas no nosso país.
Aos transmontanos, em primeira instância porque se o Garrano desaparece, desaparece com ele, uma parte da História e da cultura de um povo. A cultura não é apenas o conhecimento inscrito em livros, é todo o conhecimento, e este apresenta-se de variadas formas e todas elas preciosas. Estes animais representaram uma realidade que não deve ser esquecida, deve sim ser enaltecida para que com base no passado, possamos projectar o futuro.
Como alguém disse um dia “nós seremos lembrados, não apenas por aquilo que construímos, mas também por aquilo que nos recusamos a destruir”.

Páginas a visitar:
http://www.garrano.pt/
http://www.sitiodogarrano.com/
http://www.blogger.com/www.acerg.net

Untouchable Rules, India, 1920


Untouchable Rules, India, 1920
Photograph by Maynard Owen Williams

"The caption on the back of this picture from our archives is short and cold: 'India. Watering a man without breaking caste rules.' For an Untouchable, a member of the lowest Hindu social class, the rules are many, with prohibitions on everything from physical contact with higher castes to drinking from central village wells."

in National Geographic magazine, Junho de 2003


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Bioaromas


"Em Proença-a-Nova, uma escola desenvolve um projecto inédito para jovens com necessidades educativas especiais. Desenvolvido pela E.B. 2,3/S Pedro da Fonseca, o bioaromas alia a divulgação ambiental à experiência de iniciação pré-profissional em contexto de trabalho e foi premiado recentemente pela confederação Portuguesa das Associações de defesa do Ambiente. Os participantes tê entre 13 e 18 anos, frequentam o ensino secundário e vivem uma experiência de produção de uma horta de ervas aromáticas e medicinais, aprendendo regras de higiene e segurança..."


National Geographic Portugal, Setembro de 2009. Texto de Pedro Martins ( com supressões)


Podes ler e ver mais em National Geographic - clica no link ao lado

O voo da passarola


No ano dos 300 anos das experiências de Bartolomeu de Gusmão, vale a pena ler "O Voo da Passarola", um relato fantasioso da autoria de Azhar Abidi, autor paquistanês que fez Engenharia em Londres e que vive na Austrália, e cuja tradução em português saiu em 2006 na Âmbar. Um blogue sobre o livro está aqui.

Excerto com um diálogo entre Luís XV de França e o Padre Bartolomeu de Gusmão:

" - Conhece este mapa, padre? - perguntou ele a Bartolomeu, apontando para uma carta na parede.
- É o Cosmographie Universelle, de Guillaume le Testu.
- Exactamente. Agore olhe para ele mais de perto, padre - pediu o rei.-O que é que vê?
- A Terra Australis, Majestade - respondeu Bartolomeu.
- E que significado tem para si?
- É o mítico continente do sul, claro, de que falou Ptolomeu e que Colombo acreditava ser uma terra de um verde luxurioso, com rios em abundância e habitado por povos que vestiam roupas de folhas de ouro.
A pergunta tinha sido um teste, e eu podia ver que Bartolomeu não respondera correctamente. O rei parecia desapontado.
- O que ele mostra é o paraíso, uma terra de felicidade. Mostra esperança, padre, aquele mapa. É por isso que eu gosto de mapas. Gosto deles com monstros marinhos e sereias. Gosto deles com dragões e centauros. Gosto ainda mais se eles estiverem incompletos e incorrectos porque assim a probabilidade de descoberta é ainda maior. O nevoeiro levanta e um novo cabo começa a aparecer... ah, que marinheiro não arriscaria a vida por tal visão?"

Louvores do original em inglês, premiado na Austrália:

"This enchanting fable seems in its compass to consider everything worth considering: enlightenment and religious authority, research and totalitarianism, gravity and ideas, adventure, love and fun, and all with a zest and pace missing from so much other fiction writing."
Thomas Keneally, author of Schindler's List

"Azhar Abidi is not an author who has his feet on the ground. And that's a compliment."
Alexander McCall Smith, The New York Times Book Review


retirado de: http://dererummundi.blogspot.com/
Imagem:
http://passarolaquervoar.blogspot.com/2008_04_01_archive.html